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segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Prólogo do livro “Garras de Grifo” de Leandro Reis


– Pobre garoto… Ei, isso é só um braço decepado! Ele não está se movendo… Não pode agarrá-lo nem nada parecido. Olhe para ele. – disse Vélius, inclinado sobre o balcão sujo. – Não há razão para ter medo.
O garoto, que não possuía mais que 5 anos, finalmente ergueu os olhos e o encarou. Estava tudo quieto agora e o pensamento de que poderia sobreviver esquentou-lhe a alma. O homem debruçado sobre o balcão sorria amavelmente. Tinha cabelos brancos, curtos e descuidados, que pareciam mesclar-se às sobrancelhas grossas e longas. Uma barba espessa, de meio palmo, terminava seu rosto magro. Era um velho e, pelo medalhão dourado balançando em seu pescoço, poderia bem ser um sacerdote de algum deus.
– Está vendo seu pai? – O velho apontou mais adiante, esticando-se com um suspiro. – Ele apenas desmaiou. Levante-se e vá até ele.
O garoto olhou mais uma vez para o braço à sua frente.
– Seja um homem! – falou Vélius, de modo severo.
Vendo que o jovem não se moveu, o homem afastou-se para pegar um garfo e retornou, jogando-se no balcão e esticando o máximo que pode, cravando os dentes de metal na carne morta e levantando-a como uma coxa de frango. Com um suspiro, ele retornou para a posição de antes e arremessou braço e garfo sobre o ombro.
– Pronto, o braço sumiu. Agora vá lá e dê uns tapas na cara de seu pai para ele acordar.

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